"Governa por meio de decretos, disciplina por meio de castigos, e o povo usará subterfúgios e não terá consciência. Guia-o pela virtude e pela moral, e ele terá consciência e alcançará o bem."
           Analectos, II, 3
"Desde o supremo governante até o homem mais humilde, a base fundamental é igual para todos: o aperfeiçoamento de si mesmo."
             O grande estudo, VI
  "As forças menores fluem por toda parte, como correntes de rios, ao passo que as grandes forças da Criação movem-se em silêncio, mas constantemente."
             A conduta da vida, XXIX
  Confúcio viveu há 2.500 anos. Só exerceu funções subalternas e teve poucos discÃpulos. Sua biografia é obscura. Seus textos se perderam. Mesmo assim, tornou-se um personagem histórico de primeira grandeza. Os chineses o consideram o sábio nacional mais relevante e reconhecem nele "um mestre para dez mil gerações". Fundou um projeto civilizatório ao defender um ideal de perfeição moral que se obtém pela prática de virtudes humanas.
  Não propôs nenhum tipo de experiência religiosa nem falou em mistérios de outro mundo. Para ele, o que está oculto e precisa ser desvelado é justamente o que perpassa tudo, o que não cessa de se expor, o que se desdobra da maneira mais ampla. É onipresente e invisÃvel, pois não se esgota em nenhuma das suas manifestações.
  Ao contrário da ciência ocidental, seu pensamento não pretende conhecer objetos e estabelecer uma incontroversa verdade sobre cada um deles. Ao destacar o fundo de imanência que torna tudo possÃvel, busca encontrar os caminhos da harmonia.
  Reconhece que a realidade se nos apresenta na forma de opostos, pois, quando nasce algo, o seu oposto simultaneamente se cria. Mas diz que o contraste é relativo. Nenhum dos lados pode vencer completamente, pois o momento da vitória é também o momento da mudança.
  As condições antagônicas se reconciliam pela sucessão, cada qual se transformando na outra. Não devemos nos prender a um dos polos e atribuir ao outro uma posição completamente negativa. Uma atitude inflexÃvel induz a atitude oposta, perpetuando o confronto e dificultando o fluxo das mutações. Precisamos encontrar a posição correta, aquela que nos permite vivenciar os contrastes no tempo, o grande produtor de regulação.
  A herança confuciana marcou profundamente a civilização chinesa, na qual a obrigação moral é a base da ordem social.
  Este volume reúne três textos: uma visão geral do confucionismo, escrita por Richard Wilhelm, o maior sinólogo alemão, tradutor do I Ching [Livro das mutações] para lÃnguas ocidentais; a biografia clássica de Confúcio, escrita por Sima Qian (ca. 145-85 a.C.), astrônomo, matemático e maior historiador chinês da Antiguidade; e um dos quatro livros canônicos do confucionismo, o Chung Yung [A conduta da vida], cuja autoria é atribuÃda a K´ung Chi, neto de Confúcio.
  O volume abre a série de introduções que a Contraponto apresentará sobre os grandes pensadores de todas as épocas.
            César Benjamin
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