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Estética da desaparição

Paul Virilio
116 páginas
ISBN: 978-85-7866-110-6
Tradução: Vera Ribeiro
R$ 52,00  R$ 31,20

"O homem deslumbrado consigo mesmo fabrica seu duplo, seu espectro inteligente, e confia o entesouramento de seu saber a um reflexo. Nesse ponto, continuamos no campo da ilusão cinemática, da miragem da informação precipitada na tela do computador. O que se oferece é justamente informação, mas não sensação; é apatheia, essa impassibilidade científica que faz com que, quanto mais informado é o homem, mais se estenda ao redor dele o deserto do mundo e mais a repetição da informação (já sabida) desregule os estímulos da observação, captando-os de forma automática e sumamente veloz não só na memória (luz interior), mas, antes de tudo, no olhar."
Paul Virilio

Paul Virilio talvez seja o autor que pensou mais radicalmente, e de forma pioneira, as transformações provocadas pela velocidade da técnica, sobretudo nas últimas décadas do século XX e no início do XXI. Suas audaciosas teorias partem de uma constatação que ainda é polêmica, embora tenha se tornado cada vez mais evidente: a proliferação das mídias audiovisuais e interativas subverteu as vivências temporais, contribuindo para comprimir as durações, desmaterializar o espaço e expropriar certas zonas da experiência subjetiva.

Neste livro, publicado originalmente em 1980, o autor antecipa de forma visionária muitas das discussões que logo se tornariam centrais para compreender o que mudou nos modos de vida da atual sociedade tecnologizada. Entre outros fenômenos que marcam o espírito desta época, Virilio examina o paradoxo entre velocidade e inércia; as transformações das experiências em comum, suscitadas pelo compartilhamento compulsório de informações e pelos monitoramentos contínuos; as implicações da virtualização que acompanhou o desenvolvimento da vida on-line, bem como as novas formas de isolamento e dispersão que vieram junto com a expansão das redes digitais e a multiplicação das telas.

Partindo do exemplo da picnolepsia – um estado de "ausência" no qual ocorre uma suspensão da percepção ordinária experimentada como uma pausa entre consciência e inconsciência –, o autor analisa a captura da frequência temporal subjetiva pelos dispositivos cinemáticos. Essa interrupção da vigília -- que, em certo sentido, é comparável a outros "tempos mortos", como o sono e a contemplação – foi considerada um "pequeno mal" pela fisiologia, ou seja, um obstáculo às demandas capitalistas por uma percepção sempre alerta e produtiva. Por isso, segundo Virilio, esse modo disruptivo ou "inútil" de experimentar o tempo foi modulado por um arsenal de máquinas da visão que tenderam a canalizar essa breve descontinuidade por meio de velozes efeitos de montagem, tornando cada vez mais obsoletos os exercícios do olhar contemplativo e da vida imaginativa.

Essa logística de percepção tem acelerado os ritmos e racionalizado o que é subjetivo, como parte de um processo maior de homogeneização sensorial, generalizando assim um tipo de temporalidade em que a interioridade psicológica é continuamente neutralizada. Nessa tentativa de regularizar os biorritmos com vistas a torná-los compatíveis com as novas exigências sociais, começou a ser ofertado um crescente menu de próteses – desde os dispositivos da ubiquidade até os que permitem alterações metabólicas, ajustes no humor e turbinações neurocognitivas.

Esta edição tem prefácio de Jonathan Crary, que adverte algo primordial: numa sociedade "sem pausas nem descansos", vivemos "num meio de funcionamento contínuo de incontáveis operações que são efetivamente incessantes". Nesse quadro, que já foi considerado distópico, Estética da desaparição anuncia a iminência de uma possível catástrofe, cada vez mais avançada, em cujo horizonte se vislumbram tanto o esgotamento dos recursos naturais como o colapso dos "recursos humanos".

Paul Virilio teve o mérito de detectar muitas dessas tendências que pautam a atual "sociedade de controle" quando elas estavam sendo gestadas. Este livro, um dos clássicos que compõem sua obra, é prova disso. Por isso não surpreende que a leitura destas páginas alarmantes tenha um objetivo fundamental e cada vez mais urgente, explicitado pelo próprio pensador da velocidade: alertar para o "papel político do parar".
Paula Sibilia

Paul Virilio é um dos pensadores mais importantes das relações entre técnica, velocidade e política e de seus impactos sobre os ritmos humanos. Arquiteto e urbanista de formação, sua obra dialoga com os campos de estudos da imagem, das mídias e das artes visuais. De seus vários livros, já foram publicados no Brasil Guerra pura (Brasiliense, 1984), "Guerra e cinema" (Página Aberta, 1993), "O espaço crítico" (34 Letras, 1993), "A máquina de visão" (José Olympio, 1994), "Velocidade e política" (Estação Liberdade, 1996), "A arte do motor" (Estação Liberdade, 1996), "A bomba informática" (Estação Liberdade, 1999) e "A estratégia da decepção" (Estação Liberdade, 2000).

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